terça-feira, fevereiro 12, 2008

Cintura

A nossa cintura continua apertada num buraco pertinho do último, desde que este governo tomou posse. Provavelmente assim irá continuar até final deste mandato. Ora todos sabemos que apertamos na cintura, mas a gordura vai para algum lado. Ou seja, neste caso o dinheiro. É certo que a economia não é de efeitos imediatos, mas também onde está sequer o primeiro efeito? O desemprego continua a subir, continuamos com impostos elevados, temos uma taxa de pagamento de contribuições que sobe a cada dia (ontem tinha 100 pessoas à minha frente para pagar a segurança social, inédito!), os preços de tudo sobem de dia para dia mas os ordenados parece que estão sempre iguais. E ainda por cima deste ambiente de miséria, em que o sentimento de tristeza é elevado, nós ainda somos um povo muito acomodado, pouco dado à mudança e ainda menos dado a reclamar. "Para quê? As coisas continuam iguais!" Já se diz ao tempo que a união faz a força e se assim for, podemos mudar várias coisas. Se bem que não há quem mude a escória que brinca ao fazer leis. Fazem-se leis para calar bocas, mas que são sempre dúbias e descabidas. Deixam sempre alguém sem saber o que fazer ou até basicamente servem para inglês ver, dado que os buracos de fuga são enormes (veja-se o exemplo recente da redução de imposto aos serviços prestados por ginásios).

Da parte que me toca e uma vez recém-doutorada, gostava de esclarecer coisas que não passam cá para fora. Fala-se dos programas para doutorados, de emprego científico, de mais bolsas de doutoramento, mas "esquece-se" de explicar o que isso significa na prática.
A maioria dos doutorados continua a sua vida a usufruir de mais bolsas, as pós-doc, assim sem termo. Ser bolseiro é do pior que há. Não há regalias nenhumas: se ficarmos no desemprego não há direito a subsídio de desemprego. A segurança social a que temos direito é apenas o seguro social voluntário, que é o mínimo dos mínimos (20% do salário mínimo nacional) que deve servir apenas para a manutenção do nosso número por aqueles senhores tão trabalhadeiros que estão lá arduamente nos serviços da segurança social. Não temos subsídio de refeição, 13º mês, subsídio de férias. As bolsas têm o mesmo valor há anos, nem um aumento abaixo da inflacção tiveram.
Tudo istoleva à questão para quê mais bolsas? Só para aumentar o número de doutorados, mas para no fundo se estarem a cagar (desculpem o termo) com o que lhes acontece. Não há emprego científico assim como eles apregoam. Tenho colegas meus de curso que ficaram no estrangeiro e já acabram doutoramentos com médias de curso mais baixas que a minha e que já têm empregos óptimos, nas áreas deles. Até os procuram. Cá há um tachinho entre o governo e as empresas, que por fora dizem uma coisa, mas por dentro é tudo da mesma espécie podre. Não há investimento em investigação como deve ser. Ninguém está para receber uma pessoa que anda para lá a fazer umas perguntas e que só ao fim de 2 anos começa a ter uns resultados giros. Não há tempo nem dinheiro (que são trocos, mas se forem para o bolso deles é muito melhor).
Investe-se numa ou duas áreas da moda e faz-se uma ou outra parceria com universidades estrangeiras de renome e a coisa está feita. Mas depois a parceria quase nada dá para fazer. Veja-se o caso de uma conhecida que foi 8 meses para Boston (casa do MIT) e que lhe foi recusada ao abrigo da parceria que foi feita com o MIT financiar a participação dela num grupo de investigação lá. Porque aquilo SÓ serve para fazer mais uns doutorados.
As áreas da moda, na biomedicina e afins são giras e tal, mas há muito mais investigação neste planeta. Há coisas tão simples que um aluno de licenciatura pode fazer por uma empresa que não vos passa pela cabeça, muito menos pela cabeça dos empresários, infelizmente.
E por fim, queria aqui apenas falar um pouco do processo de candidatura a bolsas/doutoramentos. Mas em vez de se aumentar o número de bolsas, a meu ver o interesse seria de facto seleccionar candidaturas sólidas, com temas de relevo para o país. Com aplicação. E os candidatos melhores não são os que têm melhores médias. Mas como não há entrevistas, fica-se pelos números.

Afinal se o governo nos vê a todos como números, sem vida e sem sentimentos, quem são os doutorandos no meio de 10 milhões?

3 comentários:

Gi disse...

Eu sei muito bem do que estás a falar; tenho 2 sobrinhos em situações destas e, qualquer dia, serão os meu 2 filhos: um já universitário e o outro a caminho de o vir a ser;
Se depender de mim, não ficam cá os meus filhos, de certeza!
Já basta cá ter ficado eu :)
Espero, sinceramente, que consigas aquilo que desejas :)

CAP CRÉUS disse...

Olá,
Como sabes também sou bolseiro (pelo menos até final de Março).
Gostava de saber se estás ligada a alguma instituição, pois se assim fôr abriu um concurso que te é capaz de interessar. Vai à página da FCT e vê o anúncio onde diz Pontos de Contacto Nacionais.
Ou se conheceres alguém...

CAP CRÉUS disse...
Este comentário foi removido pelo autor.