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terça-feira, janeiro 20, 2009

O meu primeiro CD

Nunca vos contei, mas conto hoje. É com notícias tristes que vamos buscar recordações ao baú.

Quando estava na época de boom dos CDs, andavamos nós ainda de K7s prontas no rádio para gravar aquela música quando passasse na rádio. Cada CD era um investimento e levava várias semanadas para conseguir por de parte o montante necessário para adquirir um.

Mais tarde passei a ter uma aparelhagem no meu quarto (grande, oca e leve, preta, da Philipps, ainda existe), que me proporcionou milhares de horas de música, dança, playback, boa disposição e um conhecimento que agora invejo a mim própria nessas idades sobre música.

E o dia de adquirir o meu primeiro CD chegou. Podia ter comprado tantos, dado que era fã de tantos outros, aqueles que eu até dizia que faziam parte da Banda Sonora da minha vida. Mas não, eu comprei o CD de lançamento dos Sitiados. Ainda o tenho, claro. Quando o vejo, pego nele, sempre com um sorriso de cumplicidade.

O João Aguardela, vocalista e fundador, faleceu. Deixou-nos na ignorância da sua partida, na recordação do seu passado e nas notas musicais do seu talento.

É, infelizmente, com más notícias que relembramos reocrdações boas da nossa vida...

segunda-feira, julho 14, 2008

Caminho


Imagine-se há 10 anos atrás. Estudante, em início de vida profissional, já trabalhador, já mãe, já pai. Imagine-se.

Tente lembrar-se de um dia específico, que o tenha marcado. Que se lembre do que fez, onde foi, com quem falou. Lembre-se nitidamente.

Pense agora: e se nesse dia se tivesse levantado 1 h mais tarde? Tivesse virado à direita em vez de à esquerda? Tivesse comido peixe em vez de carne? Tivesse saído mais cedo? Tivesse ido ao cinema?

Nada? Seria igual? Não. Podia ter conhecido pessoas que não conhece, ter ido fazer desporto que não fez, ter presenciado um acontecimento importante, podia ter tido um enorme azar, podia ter tido uma enorme sorte, podia ter-lhe escapado uma oportunidade fantástica ou então tê-la agarrado sem saber.

Se eu há huns 11 anos atrás não tivesse concorrido para o curso em que entrei, provavelmente muitas das coisas que me aconteceram nestes anos não teriam acontecido. Amigos, namorados, erasmus, PhD, esta nova carreira, a minha casa tal como é... As viagens...

Muitas vezes nem pensamos que estamos sempre a decidir. E muitas vezes vamos pelo nosso instinto. Vamos onde o vento nos leva e também cada nosso passo, cada nossa palavra, cada nosso gesto. Há que ser racional nas escolhas, mas a nossa parte animal dá-nos aquela força irracional que muitas vezes desconhecemos e nos leva mais além...

Nota: imagem, também ela de decisões, teve origem na recente ida a NYC, mais precisamente no SoHo.

sexta-feira, junho 27, 2008

Mudam-se os tempos...

Quando era pequena e ia em viagem no carro, em família, ouvíamos música frequentemente. Jovens e ávidos de músicas e d conhecer tudo, eu e o meu irmão lá convencíamos os meus pais a ouvir as rádios da moda ou as nossas cassettes devidamente gravadas, planeadas ao segundo.

Mas à hora certa era sagrado que o meu pai mudava para a Antena 1 ou rádio mais de carácter informativo. As notícias eram sagradas e nós irritadíssimos, em especial se ia dar AQUELA música que nós tanto gostávamos. As notícias duravam uma eternidade e eram, claro, uma seca.

Hoje dou por mim a caminho do trabalho, a ouvir as minhas rádios e as minhas músicas, mas quase automaticamente a mudar de estação à hora certa. E lembro-me do meu pai. No fundo o hábito era bom e agora o reconheço. Estar informado é essencial nos dias que correm. E é, também, o lembrar-me do meu pai todos os dias à hora certa. Já que está fisicamente longe de mim... Qual fotografia em cima da secretária.

terça-feira, junho 24, 2008

Gerações

Já nos chamaram de tudo, desde geração rasca depois à rasca e depois que temos tudo quando os nossos pais não tinham quase nada, viviam uma vida santa mas também difícil. Acho que o nosso impasse hoje em dia é mesmo que temos de viver no mundo que fizeram para nós, com o aquecimento global, com o choque petrolífero final, com o descarrilamento da economia, com o espalhar palavra de mudança em classes a mãos com dificuldades, com o mundo a cair devagar mas cada vez mais depressa e nós que nem hipótese de o conhecer todo no seu melhor temos.

É certo que vivemos na época da tecnologia, das facilidades, dos avanços na medicina, no aumento de qualidade de vida, mas também temos de lutar muito mais para o termos. Temos de deixar de pensar em só receber e temos muito a dar ao nosso planeta. Ela está a ficar doente e cada vez mais parece que as pessoas não querem ver isso. 

Agora sim é altura de perguntar o que vamos dar aos nossos filhos? Não é uma conta para ir para a universidade, uma casa com espaço para crescer e brincar, as oportunidades que nós não tivemos. A nossa geração tem de pensar no mundo que vai dar aos filhos e tem de mudar tudo o que conhece e faz no dia a dia, desde o mais simples hábitos, para conseguir dar o melhor ao seu filho.

Por isso pensem duas vezes sempre que usarem o carro, sempre que deitarem lixo para o chão, sempre que gastarem água desnecessariamente, sempre que gastarem electricidade desnecessariamente, sempre que gastarem um saco de plástico, sempre que fizerem muito lixo, sempre que não reciclarem.... Sempre de olhos abertos.

quinta-feira, maio 22, 2008

A revolta do Sol



Maio. Mês das flores, mês em que a Primavera se afirma de pedra e cal, à espera do Verão. Campos verdes, cores, alegria. Começam, ainda tímidas, as festas e romarias populares. O Sol vai aquencendo, preparando para nos aquecer, quase em chamas, no Verão. Fim das aulas à vista, comemoração dos universitários, frutos a amadurecer. As cerejas, as nêsperas, as ameixas, os morangos. Dias tão longos, a convidar a um passeio após o jantar, no campo, no jardim, nas ruas em decréscimo acentuado de movimento. Nos dias de Lua cheia, parece quase haver um Sol nocturno, que nos acompanha. A roupa mais leve, a libertação dos aconchegos na cama, a sandália que deixa o pé voltar a espreitar a rua. Um casaquinho leve. Bebidas frescas, um copo na esplanada. Um gelado. Deitar na relva ou até na praia, absorvendo saudavelmente raios de sol, um tom mais vivo na pele.

Para quem já tem saudades ou já nem sabe como era o mês de Maio nos tempos passados. Maio. De pijama quentinho, manta à mão, ouvindo a chuva lá fora. Feriado com desejo de ficar enroscada no sofá. Maio. Já não és o mesmo Maio que cresceu comigo e fez anos comigo ao longo da minha vida.

quarta-feira, maio 21, 2008

Minuto de Silêncio

Não venho aqui pedir-vos que façam um minuto de silêncio pelas mais recentes vítimas do ciclone Nargis ou do terramoto da China. Tenho o maior respeito por eles e por terem sofrido as consequências de um desastre natural, do qual nós próprios nunca nos livramos. Mas essas pessoas, mesmo sem o esperar e deixando cá uma vida e entes queridos que choram a perda, já sofreram e infelizmente, a sua vida já acabou.

O que aqui vos venho pedir é um minuto de silêncio por todas as crianças que aos poucos perdem a sua vida, a sua infância, o seu sorriso, a sua saúde, a sua inocência, nesse desastre humano gigantesco e em crescimento que é a prostituição infantil ou mesmo esse terrível movimento que é o turismo sexual.

Li hoje de manhã a reportagem da Visão da semana passada sobre "Prostituição infantil no paraíso" e simplesmente agradeci a minha vida simples, fácil e com obstáculos de brincar. A população que vive abaixo do limiar da pobreza, aliada à falta de informação e oportunidades leva à existência destes campos de concentração sexual por esse mundo fora. Vender o corpo a partir dos 7 ou 8 anos é um auto assassínio obrigado. E infelizmente no paraíso do Brasil, muitos dos turistas sexuais são mesmo portugueses. Como é possível descer-se tão baixo, dar uns trocos míseros a uma criança por uns minutos simplesmente abomináveis?

Não será esta uma das causas do colapso da Humanidade? São problemas gravíssimos que só vejo aumentar. São abismos de diferenças entre humanos semelhantes. Onde é que esquecemos que cada ser humano é nosso irmão e tem os mesmos direitos que nós?

terça-feira, maio 06, 2008

Mais velha

A dias de ficar mais "velha", recordo o que era o meu aniversário quando era pequena. Com sorte recebia uma roupa nova, colorida ou florida, presenteando a Primavera e o Mês das Flores. Era o delírio chegar o dia e ir para a escola muito bonita. Aquela sensação de quase princesinha.

Havia o costume de se levar um bolo de anos, pelo menos na Primária, o que nos fazia contar as vezes que nos cantaram os parabéns na semana de festividades.

A festinha para os amigos tinha brincadeiras no pátio dos avós, bicicletas, música, jogos, pipocas do papá, gelatina, mousse de chocolate, aquelas trufas da minha mãe e até aquela deliciosa tarte de morango com chantilly!

Os presentes eram simples mas nós recebíamos tudo com um enorme sorriso. Uma canetinha, um bloquinho, um livro, um pequeno álbum de fotografias, um conjuntinho de borrachas...

Os meus pais ofereciam-me também um presente que normalmente era o ponto alto.

Também havia a festa de família.

Hoje em dia os pais até nas festas de aniversário já se tentam "livrar" dos filhos, nas festas organizadas em ginásios, clubes ou associações. Qualquer pessoa que os entretenha durante 2 ou 3h, enquanto os pais conversam e olham para o relógio. As prendas são ao quilo e a tentar vencer um concurso de genialidade.

Depois ainda dizem que estamos em crise. Estamos, o raro hoje em dia é encontrar algo ou alguém (já nem digo um comunidade ou país) que não esteja em crise. Cada vez mais evoluímos na corda bamba da entropia, ela balança cada vez mais, o equilíbrio diminui e nós ainda nem olhámos lá para baixo.

quarta-feira, abril 16, 2008

Inocência

Quantas vezes não desejamos não ter chatices na vida? Falo por mim, é quase todos os dias. Não tenho tempo para o tudo que me rodeia e infelizmente para o tudo que mais me preenche. Há quem diga que o trabalho, esse, nunca desaparece e é verdade. Que mais vale viver a vida e ir fazendo o trabalho. Mas ele também tem outra característica forte: acumula e piora. Portanto nesses dias que estou a achar que nem sei por onde começar e que a cada instante me cai mais uma em cima, que desejava viver na inocência da simplicidade da criança. Um dia já assim fomos e os nossos pais tentaram simplificar-nos a vida e explicar tudo de uma forma simples. Mas nós, sem querer, evoluímos para o difícil e concreto e "hands-on". Será que alguém no mundo escolhe não evoluir assim? Não ter chatices? Das duas uma, ou é luxo que compra com facilidade ou é porque não tem alternativa de viver sem acesso ao mundo. No segundo caso é forçado e o desejo seria que não fosse assim, no primeiro se houver comodismo e deslumbramento, pode durar para a vida. Mas de certeza que se sentiria num mundo à parte, pois ninguém teria as mesmas vivências. Sentir-se-ia sem problemas, mas à parte. Portanto, aquela frase feita do nunca estarmos bem onde estamos, parece ser tão verdadeira quanto o mundo real. Se nos reformassemos já cairíamos no tédio mas reformando-nos só quando é devido, estamos cansados e a vida já passou em grande parte.

E a vida é mesmo assim. No final o que nos conforta é saber que (ou pelo menos desejar que) essas chatices todas que tivémos e o trabalho que despachámos vão construir a base para o futuro de alguém.

Dizem as crianças no alto da sua sabedoria que o mundo dos adultos é difícil, mas dizemos nós que vale a pena o esforço quando na meta está a recompensa.

Pena que na vida real e nas leis e regras dos jogos que vivemos nos locais de trabalho, muitas vezes não seja tão assim ou a cereja no topo do bolo pare nas paragens cimeiras e cá em baixo só fiquem as migalhas.

Pena que tenhamos de aprender o formalismo da legalidade e da aparência, para que possamos discutir a realidade em conversa de corredor. Diz quem sabe que estas são as conversas mais importantes. Então porque é que as conversas de reuniões formais não são como as de corredor? Passamos a falar despreocupadamente, casa um diz o que acha e poupa-se tempo?

Aprender a jogar sem dar de nós ao jogo, sem dar lenha para nos queimar não é fácil. Pode fazer-nos mais fortes, mas também nos faz mais insensíveis.

Sou só eu a sentir este turbilhão de sentimentos ou há mais alguém aí desse lado?

quarta-feira, abril 09, 2008

Branco

Numa viagem de regresso, há pouco, da reunião que tínhamos agendada de manhã, tive o prazer de vir a ver o caminho e as suas envolventes. Já conheço o percurso muito bem, mas na maioria das vezes como condutora. Olhar para os lados e pensar na vida é um luxo raro.

Num destes momentos em que vinha a interiorizar tudo o que foi dito e o que vai ter de ser feito, vislumbrei, e não era alucinação, a escassos 20 m da A1, no meio de algumas árvores, sozinho, sem equipamento humano, um cavalo branco.

Juro que ele também me viu naquela fracção de segundo. O resto das coisas pararam na minha cabeça. Ali, naquele momento, a pureza tão perto da civilização e do corropio.

Espero que seja um sinal de esperança e que tudo vai correr bem. Estar à beira de uma nova vida profissional não é fácil, especialmente quando aumenta largamente a responsabilidade e as tarefas. Só o tempo é que não estica, restam estes momentos únicos e aqueles em que estou contigo, nem que apenas abraçados no sofá. Têm o maior valor valor para mim. São os meus momentos brancos, de paz, alegria e amor, mesmo que o dia seja o mais complicado e preenchido de trabalho e chatices.

domingo, abril 06, 2008

Quando for grande...

Ontem à noite estive num jantar de "trabalho". Estavam várias pessoas à mesa e a certa altura começa-se a falar da fase da vida em que tem de se escolher que área vamos estudar (10º ano) para mais tarde ingressar na universidade (com os nossos "infantis" 18 anos).

Eu lembro-me que fiz uns testes psico-técnicos, com uma espécie de psicóloga (foi o melhor que arranjaram à nossa escola) e que aquilo deu uma panóplia de áreas, como gestão, matemática, línguas e não sei quê. Basicamente fiquei na mesma.

Eu estava num dilema e assim continuei. Eu adorava arqueologia (muito por culpa do Antigo Egipto e do Indiana Jones). Mas também adorava matemática e tudo o que envolvesse cálculos. Por ter consultado os meus pais, que me explicaram (e muito bem) que ser Egiptóloga era muito difícil e que depois ficava no desemprego, escolhi as ciências.

Quando cheguei ao final do 12º ano, com específicas feitas Matemática, Química e Física, com média para entrar em tudo, fiquei a olhar para o papel da candidatura. E agora? Ainda não tinha decidido!

Como tenho tendência para ser diferente, estabeleci que queria ir para o Técnico. Ponto final. Depois tive de escolher e ordenar os cursos.

Entrei para a primeira opção, Eng. Biológica. Mas ao fim do 1º ano achei que não era aquilo que queria, tinha muito poucas cadeiras de genética (e mais uma vez a história do ser difícil depois trabalhar nisso...). Mudei de curso, sem ter perdido o 1º ano. Lá fui para a Eng. Química. Isto quando toda a gente queria fazer o percurso inverso, e chamaram-me de maluca. Se me arrependo? Nem pensar. Talvez gostasse de ter considerado outras mudanças mais arrojadas, mesmo que perdesse o ano...

Mas como muitas vezes se escreve direito por linhas tortas, a minha área de doutoramento acaba por ser na área que eu devia ter escolhido logo. Se calhar em vez de investigação estava a trabalhar e a minha vida tinha sido muito diferente (melhor ou pior). Mas vim cá ter, faço uma coisa que adoro, tem matemática, tem engenharia, tem gestão, tem investigação, imaginação, variedade...

E passei por vários obstáculos... Não me fizeram mal, mas fizeram-me mais forte.

Por muitas pedras que nos façam tropeçar no caminho, há que procurar o melhor ponto de apoio ou então levantar-nos de cabeça erguida. O caminho muitas vezes não é fácil, mas desistir quando já estamos nele é desperdiçar um bocado da nossa vida. E essa não se repete.

(Pronto, foi o meu discurso de domingo...)

sexta-feira, março 28, 2008

Mãe, o mano bateu-me

Até parece coisa de crianças, mas o caso da aluna da Escola Secundária Carolina Michaelis está a alastrar em intervenientes. O que é giro é ver como a batata quente passa de mão em mão, sem que alguém vista o barrete. Acima de tudo, a criancinha tem culpa. Mas se está cá no mundo, os pais é que lhe deviam ter passado os valores da educação. Depois há o proteccionismo dos números que o processo escolar encerra: a ânsia de termos mais alunos com o 12º ano, para combater as estatísticas e de facto acertar a realidade com a escolaridade obrigatória teórica, leva àquele processo que nem sei classificar das passagens de ano a todo o custo, ou melhor será dizer, coladas a cuspo. Depois essa maravilha que é o estatuto do estudante, que mais me parece um escudo daqueles invisíveis e invencíveis. É o quero posso e mando, mas não tenho a culpa de nada. E ninguém tem. Todos referem, todos apontam o dedo, trocam galhardetes, cospem umas coisas na cara dos outros, fogem ao assunto e depois temos uma transferência de escola. E "so what"? A culpa não é roupa de ninguém e é por essas e por outras que evoluímos para a cauda económica e civilizada da Europa, pois a geográfica já a temos por direito. Se houvesse uma evolução rápida dos continentes derivado à situação da sociedade, neste momento estávamos à deriva no Oceano Pacífico.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Cintura

A nossa cintura continua apertada num buraco pertinho do último, desde que este governo tomou posse. Provavelmente assim irá continuar até final deste mandato. Ora todos sabemos que apertamos na cintura, mas a gordura vai para algum lado. Ou seja, neste caso o dinheiro. É certo que a economia não é de efeitos imediatos, mas também onde está sequer o primeiro efeito? O desemprego continua a subir, continuamos com impostos elevados, temos uma taxa de pagamento de contribuições que sobe a cada dia (ontem tinha 100 pessoas à minha frente para pagar a segurança social, inédito!), os preços de tudo sobem de dia para dia mas os ordenados parece que estão sempre iguais. E ainda por cima deste ambiente de miséria, em que o sentimento de tristeza é elevado, nós ainda somos um povo muito acomodado, pouco dado à mudança e ainda menos dado a reclamar. "Para quê? As coisas continuam iguais!" Já se diz ao tempo que a união faz a força e se assim for, podemos mudar várias coisas. Se bem que não há quem mude a escória que brinca ao fazer leis. Fazem-se leis para calar bocas, mas que são sempre dúbias e descabidas. Deixam sempre alguém sem saber o que fazer ou até basicamente servem para inglês ver, dado que os buracos de fuga são enormes (veja-se o exemplo recente da redução de imposto aos serviços prestados por ginásios).

Da parte que me toca e uma vez recém-doutorada, gostava de esclarecer coisas que não passam cá para fora. Fala-se dos programas para doutorados, de emprego científico, de mais bolsas de doutoramento, mas "esquece-se" de explicar o que isso significa na prática.
A maioria dos doutorados continua a sua vida a usufruir de mais bolsas, as pós-doc, assim sem termo. Ser bolseiro é do pior que há. Não há regalias nenhumas: se ficarmos no desemprego não há direito a subsídio de desemprego. A segurança social a que temos direito é apenas o seguro social voluntário, que é o mínimo dos mínimos (20% do salário mínimo nacional) que deve servir apenas para a manutenção do nosso número por aqueles senhores tão trabalhadeiros que estão lá arduamente nos serviços da segurança social. Não temos subsídio de refeição, 13º mês, subsídio de férias. As bolsas têm o mesmo valor há anos, nem um aumento abaixo da inflacção tiveram.
Tudo istoleva à questão para quê mais bolsas? Só para aumentar o número de doutorados, mas para no fundo se estarem a cagar (desculpem o termo) com o que lhes acontece. Não há emprego científico assim como eles apregoam. Tenho colegas meus de curso que ficaram no estrangeiro e já acabram doutoramentos com médias de curso mais baixas que a minha e que já têm empregos óptimos, nas áreas deles. Até os procuram. Cá há um tachinho entre o governo e as empresas, que por fora dizem uma coisa, mas por dentro é tudo da mesma espécie podre. Não há investimento em investigação como deve ser. Ninguém está para receber uma pessoa que anda para lá a fazer umas perguntas e que só ao fim de 2 anos começa a ter uns resultados giros. Não há tempo nem dinheiro (que são trocos, mas se forem para o bolso deles é muito melhor).
Investe-se numa ou duas áreas da moda e faz-se uma ou outra parceria com universidades estrangeiras de renome e a coisa está feita. Mas depois a parceria quase nada dá para fazer. Veja-se o caso de uma conhecida que foi 8 meses para Boston (casa do MIT) e que lhe foi recusada ao abrigo da parceria que foi feita com o MIT financiar a participação dela num grupo de investigação lá. Porque aquilo SÓ serve para fazer mais uns doutorados.
As áreas da moda, na biomedicina e afins são giras e tal, mas há muito mais investigação neste planeta. Há coisas tão simples que um aluno de licenciatura pode fazer por uma empresa que não vos passa pela cabeça, muito menos pela cabeça dos empresários, infelizmente.
E por fim, queria aqui apenas falar um pouco do processo de candidatura a bolsas/doutoramentos. Mas em vez de se aumentar o número de bolsas, a meu ver o interesse seria de facto seleccionar candidaturas sólidas, com temas de relevo para o país. Com aplicação. E os candidatos melhores não são os que têm melhores médias. Mas como não há entrevistas, fica-se pelos números.

Afinal se o governo nos vê a todos como números, sem vida e sem sentimentos, quem são os doutorandos no meio de 10 milhões?

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Depende sempre do referencial

... já dizia o Einstein na sua teoria da Relatividade. E eu não podia estar mais de acordo. Quando se mudaram para a Europa, os Europeus decidiram criar os seus países, as suas culturas. Foram ocupando as várias fracções, umas com mais divisões, outras mais práticas. Os Portugueses ficaram ali localizados na posição perfeita para uma varanda com vista para o mar. Mas com o passar dos anos e com a falta de obras, neste momento é apenas o quintal de trás, que apenas é visitado para deixar qualquer coisa que já não é usada, ou está fora de moda. Com a tinta a cair das paredes, muita humidade e o sol pouco lhe chega. Não dá prazer estar nesse quintal mas também não há dinheiro ou projecto de design que lhe valha para o mudar radicalmente. E receio que em breve quem quer que se apelide de dono deste quintal coloque um anúncio: Trespassa-se.

quinta-feira, janeiro 17, 2008

O Reverso da Medalha

Por várias situações já ocorreu neste País dizer-se que se vai adoptar o sistema de um outro país para uma área onde, usualmente, somos inferiores ou estamos atrasados relativamente à média Europeia. Países como a Finlândia ou a Alemanha já foram falados e talvez outros que agora não me recordo. De facto, acontece que o comodismo e a pressa da civilização dão em prazos para ontem e em tendências em copiar os bons. Esquecem-se é que ao copiar estão a ignorar o povo português, a nossa cultura, língua, costumes, tempo, tradições e toda a máquina que é a nossa constituição e as nossas leis. Coisas coladas a cuspo têm tendência a quebrar rapidamente. E além disso, têm tendências a ter falhas que dão na irremediável corrupção. É sempre fácil dar a volta e se há países que são paraísos fiscais, nós somos o paraíso da corrupção, mesmo que de forma simples, uma corrupçãozinha mais outra e outra começa a ser demais. Estamos fartos de leis que revogam leis, que substituem leis, que vêm cobrir buracos de leis, que afinal são apenas lavar de mãos do governo.

Veja-se o exemplo recente da alteração do IVA para os ginásios. Ainda ninguém me disse que a sua factura tenha baixado. Isto porque o IVA pode baixar, mas as taxas disto e daquilo podem aparecer. Afinal nós pagamos o mesmo, os donos têm mais lucros e o governo ainda vem dizer a boa voz no Telejornal que fez o que podia e se os donos encontram formas de dar a volta à questão, basicamente e com palavras caras para meia dúzia de bons entendedores, a culpa não é deles.

Basicamente estou farta de tentarmos ser o espelho de alguém ou alguma coisa, quando basicamente um espelho reflecte O CONTRÁRIO. Estou farta de termos um país com óptimos recursos e localização, com potencial e o deixemos quase ao abandono. Estou farta de o chico-espertismo ser um cultura que não nos larga e estou farta de este país não acreditar na juventude que tem.

Estou farta e espero que algum dia, não sei quando nem como, o rumo seja encontrado, pois navegar há mais de 500 anos por águas que fomos deixando de conhecer, deixou-nos às avessas com o progresso. Já estamos na época dos aviões, caso ninguém tenha reparado.

terça-feira, janeiro 08, 2008

Filmes no Metro

Viajar de metro dá-me sempre asas à imaginação. Acontece sempre qualquer coisa, nem que seja porque temos, mesmo que não queiramos, de ouvir as conversas dos outros. Outra coisa que me pergunto frequentemente é porque é que assim que soa a voz que anuncia a próxima estação, a maioria das pessoas que vão chegar ao destino se obrigam a si e a todos os que estão no caminho a desviarem-se urgentemente, não vão eles perder a oportunidade de sair. Já se sabe que o metro dá solavancos a cada grau de curva ou inclinação, portanto os desequilíbrios ou quedas são frequentes.
Hoje isso aconteceu, claro. Uma senhora ouviu o nome da estação em que queria sair e foi logo como uma seta para a porta. Mas desequilibrou-se numa curva impiedosa e caíu para cima de um homem, daqueles que envergam sobretudo e têm mesmo ar de homem de negócios. Mas caíu de braços abertos, quase num abraço de paixão às escondidas.
Ali naquela fracção de segundo podiam ter-se conhecido, apaixonado, trocado um sinal para um encontro sórdido, trocado palavras que lhes são proibídas, terem-se odiado para sempre, terem cheirado o perfume do outro. Mas pode ter sido também apenas nessa fracção que simplesmente uma senhora se desequilibrou para cima de um senhor, sem mais, assim a frio. E cada um segue na sua vida, para a sua rotina sem que aquela fracção de segundo alguma vez mais entre sequer no pensamento deles. E uma paixão divinal, a dois, pode ter ali ficado também, esquecida naquele canto do metro.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Presente blogosférico

Houve um jantar de Natal ali no Sushi Meeting e eu contribui com a minha presença. Se quiserem espreitem aqui... Um mini conto enquadrado no Natal.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Cairo

Cairo é o nome de cidade que mais me suscita um misto de aventura, mistério, sensualidade... Uma flor no mundo árabe, metrópole dominada pela elevada expressão da tradição. O smog é parceiro do dia-a-dia, confundido ainda mais a vista do simples turista, que vê tudo ao seu nível em tons castnho e pastel, coroados de um poluição em pandan. Ilustre personagem material de músicas, livros, filmes e outras formas de expressão, o Cairo vive com alma própria. À parte do formigueiro incessante que corre em direcções imprevisíveis, trânsito desregrado capaz de estourar com a paciência da mais calma pessoa, veículos impensáveis, transportes de fazer rir. Nunca pensei que os pães de forma achatada pudessem alguma vez saciar-me e deixar-me a desejar mais, quando os vi a viajar ao relento de tudo, numa frágil bicicleta, amontoados num equilíbrio invejável, ultrapassando carros de nuvens poluentes por ruas atoladas de civilização. O mercado Khan el Khalili parece transbordar para cada ruela e, pelo menos, perfurmar os ares do Cairo. O comércio é vivo, feroz, um jogo, o dinheiro conduz-nos a um monte infidável de ninharias, de recordações do mundo egípcio. As tradições muçulmanas pintam o rosto das pessoas e assim que ecoam os primeiros segundos do Adhan, surge uma organização no meio do frenesim do dia a dia. O objectivo daquele momento é cumprir o Salat, um dos cinco pilares do Islão cumprido diariamente, em número de cinco. Para quem vem de fora tal atracção turística reveste-se de um doce som entoado pelo Muazzin e que se espalha eficazmente por todo o recanto. No seu mundo de atracções a céu aberto, percorrem-se num sem fim os 215 km2 que se dizem da sua área metropolitana. A concorrida praça Tahrir será provavelmente mais conhecida por ser a morada do Museu do Cairo. Os milhares de souvenirs do Antigo Egipto ali jazem, amontoados, não esquecidos, mas sem uma morada que os dignifique, uma catalogação digna para quem os visita. São paredes históricas, desejando não rebentar, onde diariamente entram inúmeros turistas e especialistas, pelos portões da História. O encanto de uns olhos que se arrebitam com a mais pequena nota de egiptologia procura ofegante os marcos mais simbólicos. O ouro maciço da máscara do pequeno faraó Tutankamon, que por pouco tempo inspirou os ares faraónicos, hoje em dia é reconhecido como estrela mundial. A sala das múmias é assustadoramente venerável. A simples aproximação de um corpo milenar faz-nos rever tudo o que somos em segundos. Admirar um corpo nunca foi tão belo como naqueles segundos pagos a peso de ouro. No frenesim das ruas avistamos a mais variada escolha de mesquitas, observando-as de fora, é preferível não nos aventurarmos por elas, uma vez que do infiel nada de bom se augura. No limiar da cidade, já quando esperamos chegar ao fim do mundo, horas de caminho, cidade impossível de conhecer by heart, avistam-se. No fim da cidade, no início do deserto, o planalto do Gizah faz com que lá deixemos um fôlego e um pedaço de coração. Sou incapaz de descrever a emoção de vê-las ao longe e de lhe tocar na minha insignificância ao lado delas. As pirâmides são perfeitas. Imponentes e resistentes. Tão bonitas hoje e sempre. Simples. Magníficas e estrondosas. Lá me perdi horas, viajando no seu quente interior. Também as guardei junto com a Esfinge, não geograficamente, mas para sempre, no meu coração.

segunda-feira, outubro 15, 2007

Doce acordar

É segunda-feira, mas nem por isso o meu acordar deixa de ser logo de sorriso na cara a sonhar contigo. Podes não estar ali a meu lado, mas estás no meu coração. Mais uma semana de trabalho, longe de ti por largos momentos. Mas não há nada melhor do que saber que estarás sempre ali para me acompanhar e ajudar nessa tarefa hercúlea que é simplesmente viver. Saborear-te lentamente, um rasgo de alegria, um rasgo de paz e sossego. Como se o raio de sol que quebra pela janela ainda meio fechada trouxesse com ele uma esplanada à beira mar num belo e quente dia de Verão. Quando finalmente chega ao fim o dia, com ele vem a última réstea do teu sabor... a café.

Vícios há muitos. Fortes ou fracos, mais ou menos recorrentes. E a língua portuguesa é tão bonita que com ela podemos prosear os mais altos encantos e estar a falar de banalidades ao mesmo tempo. Não tenho vício por café, vivo bem sem ele até porque fora de Portugal mais vale nem arriscar. Mas que saborear uma bela bica pode de facto saber a mais do que simples café, disso não tenho dúvidas.

(E pronto, acabei de beber o meu cafézinho patrocinado pela Nespresso... De volta ao trabalho, que se faz tarde!)

sexta-feira, outubro 12, 2007

Notícias de 6ªfeira

Cada vez mais me desligo dos boletins noticiosos. Não preciso dispender tempo em muitas explicações porque todos sabemos do decréscimo de qualidade que têm vindo a ter, bem como de rigor, extensão, repetitividade, por aí fora. Na minha casa esses horários noticiosos são muito melhor empregues noutras actividades. Mas não vivendo eu sem notícias (pelo contrário), gosto muito de comprar o jornal de vez em quando e claro, todos os dias estou colada à internet a actualizar-me.

Tudo isto porque hoje saíram duas notícias de peso.

Ora a primeira vem informar-nos que "Nova Igreja de Fátima abriu com milhares de pessoas à espera de entrar". Tudo bem, cada um apoia o que quiser, mas para mim continua a ser contraditório que se tenham gasto milhões nesta obra, quando já havia uma e quando o país está com uma economia frágil. As pessoas com dívidas, a vida muito difícil, cada vez mais pobres e pessoas no limiar da pobreza e a Igreja que até devia ser pioneira na ajuda a estas pessoas ergue um monumento megalómano... À semelhança dos estádios para o Euro.

A segunda notícia é sobre a atribuição do Prémio Nobel da Paz: "Nobel da Paz para Al Gore e Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas".
Primeiro para mim não tem muita lógica, mesmo lendo a explicação, sobre a ligação entre a missão do Al Gore e a Paz. Mas tudo bem. No entanto o que me preocupa mais é que este prémio tenha sido atribuído a quem só fala para ricos, ganha dinheiro à custa de um problema mundial e ainda viaja de jacto particular, tendo por isso um factor de poluição pessoal extremamente elevado. Eu não vi o documentário dele. Sei que reflecte sem dúvida uma preocupação que é de todos e que eu tento lembrar-me todos os dias. Mas sinceramente não gosto de hipocrisia nem de actos que de muito só têm o dito "fogo de vista". E para mim, este é um exemplo que devemos, cada um individualmente, julgar.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Quando era pequena queria ser...

Eu quis ser imensas coisas. Talvez por ser uma indecisa ou ter gostos do mais variado, a verdade é que quando quis entrar para a universidade fiquei com o papel na mão sem saber o que pôr em primeiro lugar. Resultado, escolhi um molho de Engenharias e afins, tudo no Técnico. Mas há sempre aqueles desejos mais escondidos e um deles é que eu queria ser DJ. Não de profissão, mas sim como um hobby, mas queria ter o prazer de pôr música para quem se está a divertir e fazê-los mesmo divertir. Estar sempre a par das novidades, conhecer de tudo um pouco. Fazia umas misturadas lá em casa, de cassetes e CDs na mão, tal como se a aparelhagem fosse uma mesa de mistura. Descobri uns truques giros e conseguia pôr duas músicas a tocar ao mesmo tempo.

Outro dia relembrei-me. Já estava meio acomodado, escondido debaixo de outras recordações, desejos e sentimentos, mas encontrei-o ainda direito. Eu queria ser DJ. E porquê? Passei na zona da Expo e vi uma escola de DJs. E pensei, será que se ensina ou é preciso vir cá de dentro? Será que eu teria conseguido se me pusessem uma mesa de mistura à frente... Bem, para já não vamos saber, mas nunca se sabe o dia de amanhã. E a verdade é que a memória e o andar à caça de músicas já não é o meu forte. E com tanta misturada que já sai cá para fora prontinha a passar, a coisa deixou de ter tanta graça. Esta e outras, graças aos avanços da tecnologia.