Momentos pausa

Não sei como definir quando estamos num qualquer sítio e desligamos do Mundo. Acontece-me frequentemente estar a conduzir, usualmente se for um caminho já aprendido, esquecer-me do que me rodeia. O caminho faz-se, acho eu, pelo menos chego ao destino. É quando me surgem as mais espatafúrdias teorias. Hoje a caminho do ginásio, no fluxo soluçante do trânsito, páro, arranco, sem que esteja a ligar o mínimo ao que faço. Olho e contemplo as pessoas, naquele pensamento "o que pensam elas". O par cinquentão de amigas que vislumbro pelo retrovisor, provavelmente opina ou sobre o rabo da coleguinha ou sobre o patrão incompreendido. Não me pareceu em nenhum momento que falassem dos amantes amados. Senão os sorrisos e gargalhadas entrariam facilmente pelo meu vidro traseiro até mim. Ao lado, passa-me à frente o carro que já tinha vindo tempos atrás de mim. Incrível como os condutores se aventuram para chegar um carro de diferença antes. Eu meço, meço muito os artifícios dos condutores para passar nem que seja um carro. Meço em carros comidos. Se sorriem? Não continuam na mesma posição estática, de olhar morto coberto de óculos de sol. Ares condicionados meio lamechas, meio funcionais, a meias de janelas rasgadas tentam acalmar o calor que aí espreita. No bater das 8 da tarde, ainda se sentem uns quentes 27ºC. Passa a carrinha dos empregados de um qualquer lugar. Sempre comentadores da vida da rua, são entendidos, sabem as teorias. Sabem os piropos, sabem chatear quem está com atenção aos buracos alcatroados. Quando acordo, já dei a volta e não havia lugar. Está tudo com sede de desporto, não sei. Não há lugar e continuo a procurar, mas a tarde rouba-me tempo velozmente e decido. Tenho tempo, amanhã acordo pela fresca e exercito-me matutinamente.