Lisboa a 2 pés

Se há coisa que me deixa de sorriso acriançado é o começar dos dias solarengos, acalorados de portugueses e turistas estrangeiros a fervilhar a cada rua e a cada esquina de Lisboa pombalina. Se há um passeio que de vez em quando faço é descer calmamente a Avenida da Liberdade, a pé, apreciando os raios de sol através das generosas árvores que a ladeiam, desejando ter a carteira recheada para gastar nos glamourosos hotéis ali distantes e comentando aqueles pormenores que antes estavam por descobrir no meu tempo.
O objectivo ao fundo da Avenida era tomar um café de fim de tarde e o percurso estava traçado. Uma passagem rápida pelas lojas da Baixa e ao cimo já se vislumbra o Largo Camões. E nele, o Bairro Alto Hotel. O desejo mora cá dentro de ver um pôr do sol do alto do fantástico bar do terraço... Lisboa ali imortalizada ao alcance de dois olhos, liberta do corropio lá em baixo, de vistas longas sobre telhados centenários, laranjas, findos no tão nosso Rio Tejo. Mas o desejo e objectivo depressa desmorona, está cheio. Ainda não foi hoje.

Mas o que mais me orgulha nesta minha cidade de adopção é que é simplesmente deliciosa a cada canto. E depressa apareceu o plano B. A lista de desejos, felizmente, é longa e ali ao lado chamava-nos o Largo do Carmo e o Chá do Carmo. Os chás são uma perdição e nem o ser um dia de sol (para mim uma chávena de chá vem com um dia de chuva) me afastou das infusões. Devidamente acompanhado de um crepe com chocolate, bebi talvez o melhor chá da minha vida.

Depois subir à esplanada do Elevador de Santa Justa e deliciar-me com uma vista estonteante da Baixa, sorriso acriançado ainda ali meio escondido, já o sol a deixar de raiar, a devolver aquela mística luminosa da nossa Capital.

E descobri, mesmo dali, mais um desejo a realizar num próximo fim de tarde ou noite abafada: outro terraço, este não me pareceu cheio, e já sei onde fica. Divinal!