Mentir

Mentir será talvez um dos muitos verbos que nunca conjugámos nas cadeiras da Escola. Não por ser demasiado complicado, mas por existir uma atitude por parte do educador que de certo modo defende os valores da vida humana. Por isso me questiono quando me depreendo com uma cidade, um país, um mundo onde a mentira retira brilho a olhares, retira sorrisos a crianças e, infelizmente dá poder aos malvados. A mentira é a distância do comum cidadão, correcto, regido por leis melhores ou piores, que leva o seu caminho regrado, ao poderoso inútil e coitado que nos olha do cimo de um 15º andar, formigas tontas, necessárias, mas minúsculas, que circulam e recirculam nas ruas atribuladas da vida, lá em baixo, lá longe. Mentir existe no nosso (in)consciente e não vem do banco da Escola. Mas mentir está cá, uma arma, perigosa, (in)útil, (des)necessária, à mão, que provavelmente já todos empunhámos uma vez na vida.
O surpreendente é haver um dia de eleição para celebrar as mentiras... Porquê? Porquê enaltecer um acto que se pratica em qualquer beco de rua, a qualquer hora? Tão sujo, tão baixo, tão frio, tão consumidor de valores?
Mentir é um acto que aparece disfarçado de vários sorrisos, sorrisos que facilmente entram na nossa casa, nos nossos ouvidos, nos nossos olhos. Mora ao nosso lado e anda connosco como uma sombra. O truque reside em deixá-la no seu nível, porque aqui em cima o sol sorri e não mente e deixa ver o que está mais além, o sorriso do bom que há na vida.