quarta-feira, outubro 31, 2007

Doce ou travessura?

Quando eu era pequenita a tradição era ir de casa em casa pedir os "Santinhos". No dia 1 de manhã lá íamos de bolsa em punho, daquelas de trapos, pelas casas da aldeia. A vizinha Silvina dava uns escudos, a D. Elvira e a D. Perpétua eram umas mãos largas. Noutros lares mais humildes recebíamos um rebuçado ou um punhado de castanhas para juntar ao magusto.

Também havia quem fizesse a delícia de dar um chocolate ou quem tivesse comprado um bom lote de pastilhas Gorila com 100$00 (ainda me lembro de elas custarem 2$50).

Desde as minhas primeiras ingressões pela Capital nunca me apercebi que se fizesse tal coisa. Os pais protegem os filhos das inseguranças da rua. Mas nas idades ligeiramente acima a influência americana é notória. Esqueceu-se a tradição e a cultura da manhã do dia de Todos os Santos e passou-se para o 2º Carnaval do ano, o Halloween, herança americana, na véspera do dia 1. Querem agora ir mudar as mentalidades de quem vive na velha Europa, de cultura enraizada, para as atitudes massificadas do jovem país do outro lado do Atlântico.

Provavelmente arriscam-se a ficar a tocar à campaínha, desesperados por perguntar por um doce ou travessura, enquanto do outro lado espreita um olho aterrorizado (estremunhado, vá).

No dia seguinte as noitadas da juventude ressentem-se no corpo, enquanto a geração mais tradicional ruma à missa e depois a recordar os seus entes queridos, já desaparecidos. E provavelmente alguém também recordará que faz amanhã, dia de Todos os Santos, 252 anos que Lisboa adormeceu sob os seus próprios escombros.

5 comentários:

Toscarina disse...

Mais um prémio foi atribuído, quem sabe se um dia destes não é a sua vez?

Esquecem-se com facilidade as tradições que são nossas, para aderirmos ao que vem da América.

Proud Bookaholic Girl disse...

Deitamos fora as nossas tradições para assumirmos tradições que não são nossas e que nem compreendemos.
Não há pachorra!

Bjokas

Maria do Consultório disse...

Eu nunca fui de porta em porta, mas gostava que, quem alguma vez o fez, continuasse a passar a tradição.
beijo

wednesday disse...

Eu cá em Portalegre (na minha terrinha de arrabalde) ia todos os anos... :)

Este ano nem aqui o primeiro miúdo apareceu, o que mostra por um lado a desertificação e a perda das tradições. Em Lisboa nunca me apareceu nenhum, em 10 anos de Capital.

pensamentosametro disse...

Por aqui, aconteceu o mesmo, o ano passado ainda tivémos uma grande "clientela", este ano vieram os filhos e netos dos amigos, pela brincadeira e para manter a tradição, porque havia "patuscada" cá em casa.Pode ser que no próximo ano se lembrem da tradição...

Bjos

Tita